Feliz aniversário, papai!
Quando eu perdi meu pai tive a sensação que o mundo continuou na mesma velocidade e que eu não podia parar pra viver a pausa da morte, senão poderia perder algo nesse meio tempo. De fato, 2 dias depois tive que encarar uma reunião com cliente (coitados, eles não tinham com saber de nada).
Tem um livro que me recomendaram quando aconteceu que chama “a ridícula ideia de nunca mais te ver” que a autora vai conversando sobre a morte de um parceiro amoroso mas me vi em alguns trechos. Tem uma hora que ela fala (em palavras melhores do que direi a seguir) que a dor é inconversável. Que se você consegue conversar sobre isso - sorte sua! Que a dor te tira, primeiro, as palavras.
Eu senti exatamente essa sensação - sinto que ainda estou nessa fase, ainda odeio falar e conversar a respeito.
Hoje seria aniversário do papai mas ele não está mais aqui. Sei que tem todo aquele papo de que ele segue presente, mas é mentira. Ele não está. E ele nunca mais estará e as lembranças vão ficando cada vez mais distantes.
A sensação que fica é que o ritmo frenético da vida não deixa a gente parar pra viver a perda e a dor. Parece que a gente precisa programar o sentimento para momentos específicos - que não atrapalhem seu trabalho e suas entregas. O que óbviamente não acontece porque o luto é um processo doloroso e principalmente longo e lento pelo que observo do que já vivi até agora.
Na verdade o luto se apresenta assim: em algum momento oportuno ele aparece, sem aviso prévio, e atravessa seu dia. As vezes é uma música, um cheiro que bate, algo que alguém fala, você nunca sabe porque muitas vezes as coisas não tem relação direta com a pessoa.
Papai, você faz falta. Saiba que lembrei de você ao longo de todos esses meses em horas variadas. Hoje mesmo queria te ligar e você atender de má vontade e falar que eu podia mandar mensagem pq eu falo demais no telefone.
Como também esse mesmo livro que citei ali em cima diz: “apenas em nascimentos e mortes que saímos do tempo”. É verdade.
Em breve os gêmeos vão nascer e você nunca vai aparecer no hospital, mas vou sentir falta da sua visita. Espero que vc esteja bem, daqui nós estamos. Beijo grande